QUAL O SENTIDO TEOLÓGICO DA SUBIDA DE JESUS
À JERUSALÉM?
A missão que Jesus entendia ser
sua; Jerusalém não podia ficar de fora do anúncio do Reino de Deus. Deus liberta pela primeira vez o povo de
Israel da escravidão do Egito e forma uma aliança com eles. Mas dias difíceis
cairão sobre este mesmo povo durante o antes, o agora e o depois da terra
prometida.
A vinda de Jesus como messias
libertador definitivo do povo judeu, se concretiza com sua subida a Jerusalém. A
pátria espiritual do judaísmo não podia deixar de participar disso. Para Jesus
as estruturas religiosas de Jerusalém não correspondem ao desejo de Deus no
recinto sagrado. Por isso ele denunciará essas estruturas que desvirtuavam o
verdadeiro Deus e escravizavam o povo, aplicando leis que não era a Lei de Deus.
Portanto, Jesus vai a Jerusalém
porque ele sabe que no recinto sagrado, as coisas não andam muito bem por lá. E
Jesus vai, no intuito de colocar em ordem, denunciar ao povo as estruturas da
religião de Israel, nem que para isso, ele entregasse a própria vida.
Jesus sabia perfeitamente que ao
enfrentar o poder religioso de Jerusalém, acarretaria em sua própria condenação
a morte. Quando ele toma a decisão de ir para lá, brota dentro dele toda força
messiânica e se deixa levar porque acredita no amor do Pai que nunca o
abandonará.
Jesus como grande conhecedor das
Escrituras Sagradas, observa seus inimigos e ataca no momento certo, não com
armas humanas como pensavam os zelotes, mas sim com a sabedoria do Filho de Deus,
Messias libertador e Senhor do Universo.
EM QUE CONSISTE A DESCONSTRUÇÃO DO SONHO
MESSIÂNICO DAVÍDICO DE JESUS?
Hora, todo ensinamento que os
religiosos davam ao povo judeu sobre o messias enviado por Deus, tinha que vir
da parte de Davi. Sendo assim jamais aceitavam que outro se pronunciasse Filho
de Deus e Messias que não viesse da parte de Davi.
Jesus, porém, se anuncia como
Filho de Deus, Messias encarnado que vem anunciar o verdadeiro Reino de Deus na
terra, mas que não tem parte com Davi. Usando o Salmo 110,1 onde diz: ”Oráculo do
Senhor ao meu Senhor. Senta-te a minha direta, que eu faça dos teus inimigos o
escabelo dos teus pés”. Jesus mostra que não existe a vinculação dinástica entre
o Messias e Davi.
O povo da comunidade de Marcos
também não acreditava que Jesus fosse descendente de Davi, pela sua origem
mestiça da Galiléia. Porém Jesus, aí, faz uma correção da ideologia Real, Ele
afirma que o fato do povo acreditar no Messias vindo da parte de Davi,
contrapõe à filiação davídica do Messias a dignidade do kyrios (Senhor). O
Messias é Senhor, não porque seja herdeiro do trono de Davi. O importante aqui
é saber que Jesus anuncia um Reino do qual Deus é o Rei e sua autoridade
repousa nesse reinado.
No Salmo 110, Jesus afirma que a
autoridade de Messias já existia antes da autoridade de Davi, Ele acreditava
numa messianidade que não passava por trono de rei nenhum, mas que a
messianidade era muito maior do que isso, pois era uma messianidade do “Reino
de Deus”.
Jesus sabia que era hora do povo
judeu perceber o equívoco dessa messianidade davídica, começar a compreender um
Messias fora dessa ideologia régia, e acreditar na messianidade de Jesus como
verdadeiro vindo do Reino de Deus. E a comunidade cristã só vai conseguir
chegar a essa dimensão, depois que fizer a releitura da Paixão, Morte e Ressurreição
de Jesus.
JESUS O MESSIAS CONFLITIVO? POR QUÊ?
Jesus durante toda sua vida foi
participativo na comunidade em que vivia. Porém observava e se interava da
Sagrada Escritura e estudava sua observância na Lei, conforme o Evangelho de Lc.
2,52, “Ele crescia em sabedoria e graça”. Portanto, Jesus já agia na
comunidade, quando seu olhar se voltava para os pobres e doentes da Galiléia,
pela violência das autoridades tomadas e a cumplicidade das autoridades
judaicas com o Império.
E diante da situação que se
instalava com o povo judeu, Jesus afasta-se dos grupos que não tinha
compromisso com o Reino de Deus. Aproxima-se cada vez mais do Pai, com sua fidelidade
a ELE, trabalha para o Reino do Pai, para libertação do povo. Quando Jesus se
intitula Filho do Homem, ele usa-o para designar sua própria pessoa e não um
personagem na visão apocalíptica que o povo imaginava como um ser celestial que
viria salvar o povo.
Portanto, Jesus age, denuncia e
se anuncia portador da salvação de um povo massacrado pelo poder romano e
sufocado por uma religião teocrática desumana. A ação de Jesus se da desde a Galiléia
e vai até a sede do poder judaico: Jerusalém.
Sua mensagem é forte e Ele fala
com autoridade, pois confia no amor do Pai. Anuncia o reino que vai libertar os
oprimidos e punir os opressores. Jesus fala que vem da parte de Deus e não de
um reinado ou descendência Régia Davídica.
Ao desestabilizar a religião
judaica, Jesus atrai a fúria dos poderes constituídos e solidários: sacerdotes,
sinédrios e o procurador romano. Jesus era diferente de tudo que o povo judeu
imaginava, não era zelote, pois não praticava intervenção armada, não vinha
pelos essênios como outros também imaginavam, pois ele não assume uma postura
sacerdotal. Jesus organizou sim um movimento, mas não para uma guerra
escatológica, ele reúne seus discípulos a serviço do reinado de Deus,
libertando as pessoas do poder do mal.
Jesus não se limitava só no
deserto ou no Templo, mas sim na estrada, de casa em casa. Jesus toma sua decisão,
independente da compreensão de seus discípulos, ele defende os pobres, as
mulheres, as crianças e os homens oprimidos. Por suas palavras e atos passava a
redenção, e ela vinha com a intervenção de Deus, em favor do ser humano.
Sua atitude confronta-se com
aqueles que não pensavam como Ele. Mas Jesus foi o que quis ser, para decepção
de uns e de outros. A narração da viagem de Jesus a Jerusalém, com o encontro
com a morte, é colocada pelos Evangelhos como reinterpretação da esperança do
povo. Jesus deixa um legado de força e coragem, um exemplo de amor ao Pai, que
morre sem recorrer a qualquer status divino. Mas após a sua ressurreição a
comunidade então compreende a messianidade de Jesus, e sua figura misteriosa e
fascinante do Servo de Javé. Daí o caminho para Jesus não será uma salvação
mágica, mas iluminará a comunidade nas questões difíceis, do sofrimento
inocente e injusto.
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