O bispo de Hipona
carregava dentro de si uma síntese entre filosofia e teologia, sendo seus
escritos prova disso. Logicamente, em sua condição de membro do clero era a
versão teológica que se sobrepunha, não apagando, porém, suas outras
influências, mesmo que filtradas, o que vale mesmo para aquela que recebera do
maniqueísmo, pois apesar de suas teses se esforçarem em justificar somente a
existência do bem, o “mal” seria distanciar-se desse bem, e essa dualidade
sempre lhe perturbou a ponto de querer encontrar uma explicação decisiva para
assentar-se tanto na filosoficamente como teologicamente. Terminou por optar
pela inexistência do mal, isto é, o mal como não-ser, porque só o bem existe.
A conclusão é a de
que a graça é mais poderosa que o livre-arbítrio, pois, mais do que a própria
escolha humana, é Deus quem escolhe o ser humano, criando-se, portanto, um
mistério que envolve a escolha divina. Agostinho, desse ponto de vista,
acreditava-se um eleito? Tudo indica que sim, o que não tira o valor de suas
reflexões nem de sua autobiografia, nas Confissões.
A sustentação da
fé católica passou pelas mãos do bispo de Hipona, assegurando a ela uma forte
doutrina que adentrou a Idade Média e até mesmo a ultrapassou. Apesar das
afirmações Escolásticas de outro Santo, Tomás de Aquino (1225 – 1274), que
cristianizou Aristóteles, o primeiro não perdera seu brilho. Mais tarde, com os
jansenistas, que foram combatidos pelos jesuítas, a doutrina da predestinação
se fortalecia, pois estes seguiam a crença do bispo holandês Cornélio Jansênio
(1585 – 1638), da graça como privilégio de poucos, ideia que floresceu e seguiu
crescendo, principalmente por meio do Convento de Port-Royal, Paris, onde
despontou um dos mais acirrados defensores, o filósofo Blaise Pascal (1623 –
1662).
De Magistro,
enquanto interior e exterior do homem. Entretanto, Agostinho diferencia
espírito de alma, pois o primeiro parece ser apenas o elo de ligação entre o
corpo e a alma, sendo a segunda portanto, mais livre que o espírito. O espírito
atua pela memória, e a alma vai além, sendo ela que garante a imortalidade ao
indivíduo como criado por Deus à sua imagem e semelhança. Somente Deus pode
transformar as paixões humanas em forças contemplativas contra o que o Doutor
da Igreja nomeou como tentações. Era de si mesmo que o Santo falava, de como
seu interior fora transformado por Deus.
É a confiança de
que Deus tem poder de dirigir a alma que lhe é cara. E o estado de graça, na
concepção de tempo agostiniana, é sempre presente, pois no Criador não há
passado nem futuro, porque “Ele é aquele que é”. Pela graça de Deus é que a
alma reconhece sua eternidade, que avém da eternidade divina. É fato que, ao
ler as Confissões, ao bom leitor é possível
notar o quanto o coração ardente de Agostinho continuava a pulsar. Porém,
discreto, ele continuou o trabalho que começara, o de entregar-se as coisas da
fé. Vivenciou intensamente o próprio dualismo que expressou em seus escritos e também
a busca por uma conciliação, que as vezes aparecia e outras vezes se fazia
distante levando-o a optar pela crença no além como solução para uma alma
desesperada.
Não é por acaso
que, ao fim de sua vida, reforça sua opção pela “Cidade de Deus” contra a “Cidade
dos Homens”. E na sua obra De Magistro,
ensina-nos quem é o verdadeiro mestre.
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